Aqui está a pesquisa inovadora sobre o câncer que acabou de ganhar o Prêmio Nobel de Medicina de 2018

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O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina foi concedido segunda-feira, dia 01 de outubro de 2018, aos pesquisadores de câncer James P. Allison e Tasuku Honjo, cujos estudos levaram à drogas inovadoras que desencadeiam uma resposta do sistema imunológico contra a doença mortal.

O trabalho dos pesquisadores revolucionou o tratamento do câncer, determinando como desativar os "freios" que impedem o sistema imunológico de atacar o câncer, disse a Assembléia do Nobel no Instituto Karolinska da Suécia, que concede o prêmio.

As descobertas levaram a uma nova classe de medicamentos, chamados de inibidores de ponto de verificação, que agora formam o quarto pilar dos tratamentos contra o câncer, além de cirurgia, radiação e quimioterapia.

Allison estudou uma proteína que anteriormente havia sido identificada como uma restrição ao sistema imunológico, enquanto a Honjo descobriu outra proteína que mantém o sistema imunológico afastado.

Allison, presidente do departamento de imunologia do MD Anderson Cancer Center, disse em entrevista coletiva em Nova York que estava "em estado de choque" depois de ouvir de seu filho na segunda-feira que havia ganho o prêmio.

A honra, acrescentou, ressaltou a importância de apoiar a ciência básica.

"Eu não pesquisei isso para curar o câncer. Eu queria saber como as células T funcionam", disse ele, referindo-se a uma parte fundamental do sistema imunológico. Allison, de 70 anos, observou que sua mãe morreu de linfoma quando ele era pré-adolescente, o primeiro de muitos membros da família a morrer de câncer.

Os novos tratamentos provaram ser especialmente úteis para alguns pacientes com melanoma avançado, câncer de bexiga e pulmão, gerando uma nova esperança na oncologia e um mercado de bilhões de dólares para as drogas.

Mas muitos pacientes não se beneficiaram, e as drogas não foram eficientes no tratamento do câncer de pâncreas e glioblastoma. Além disso, as terapias podem causar sérios efeitos colaterais e normalmente custam mais de 100.000 dólares por ano.

Allison reconheceu que os pesquisadores têm muito mais trabalho pela frente para fazer com que os novos tratamentos ajudem mais pacientes - provavelmente usando-os com outros tipos de terapias.

"O maior desafio", disse ele em uma entrevista, "é desenvolver as combinações certas para aumentar a porcentagem de pacientes que respondem positivamente ao tratamento. Mas isso ainda vai demorar um pouco."

Honjo, 76, falando segunda-feira da Universidade de Kyoto, no Japão, onde trabalha, disse que começou sua pesquisa depois que um colega de escola de medicina morreu de câncer de estômago, segundo a Associated Press.

Um ávido jogador de golfe, Honjo disse que um membro de um clube de golfe uma vez se aproximou dele para agradecê-lo pela descoberta que levou a um tratamento para o câncer de pulmão.

"Ele me disse: 'Graças a você, eu posso jogar golfe de novo'", disse Honjo, de acordo com a AP. "Um comentário como esse me faz mais feliz do que qualquer prêmio."

Os cientistas tentaram usar o sistema imunológico como uma arma anti-câncer por mais de um século, mas obtiveram apenas pequenos sucessos até o trabalho com inibidores de ponto de verificação, observou a academia sueca.

Allison fez seu trabalho de referência na Universidade da Califórnia em Berkeley na década de 1990 e depois no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York.

Enquanto estudava uma proteína conhecida como CTLA-4 que havia sido identificada como um freio no sistema imunológico, ele percebeu as implicações para o tratamento do câncer. Ele desenvolveu um anticorpo que neutralizou a proteína e obteve resultados espetaculares em estudos com camundongos.

Em 1994, ele e seus colaboradores realizaram um experimento crucial que mostrou que camundongos com câncer foram curados pelo tratamento. Allison insistiu durante anos para que a medicação, chamada ipilimumab, fosse desenvolvida para humanos.

Em 2011, a Food and Drug Administration aprovou o medicamento, também conhecido como Yervoy, para pacientes com melanoma em estágio avançado. Foi o primeiro dos inibidores de ponto de verificação.

Enquanto isso, em 1992, Honjo descobriu uma proteína diferente, chamada PD-1, que também atuava como um freio no sistema imunológico, mas através de um mecanismo diferente.

Isso levou ao desenvolvimento de drogas anti-PD-1, como o pembrolizumab, também conhecido como Keytruda, aprovado em 2014. Vários medicamentos semelhantes já foram aprovados.

O ex-presidente Jimmy Carter, que foi diagnosticado com melanoma avançado, foi tratado com sucesso em 2015 com o Keytruda, além de cirurgia e radiação.

A declaração do Nobel observou que as terapias anti-PD-1 se mostraram mais eficazes que os tratamentos anti-CTLA-4. A combinação dos dois pode ser ainda mais eficaz, como demonstrado em pacientes com melanoma.

A combinação de imunoterapias, no entanto, também pode levar a efeitos colaterais perigosos que precisam ser cuidadosamente gerenciados.

Allison, que começou sua carreira no MD Anderson em Houston e voltou para lá em 2012, cresceu em uma pequena cidade no sul do Texas, onde seu pai, um médico de campo, fazia visitas domiciliares.

Ele é casado com a oncologista Padmanee Sharma, uma colaboradora científica e especialista em câncer renal, bexiga e próstata no MD Anderson.

Os dois estão trabalhando em estudos que usam biópsias seriadas de câncer de próstata e outros para tentar determinar como o sistema imunológico reage ao longo do tempo a diferentes tratamentos.

Com longos cabelos grisalhos desgrenhados que pendem quase até os ombros, Allison é bem conhecido nos círculos científicos por sua proeza musical, tocando gaita em uma banda chamada Checkpoints.

Em shows em grandes encontros de câncer, ele toca clássicos como "Big Boss Man" e "Take Out Some Insurance on Me, Baby." Em 2016, ele tocou com seu ídolo, Willie Nelson, no Redneck Country Club, perto de Houston.

Durante anos, Allison apareceu em listas de possíveis ganhadores do Nobel. Ele ganhou tantos outros prêmios que alguns sentam no chão de seu escritório lotado.

Na segunda-feira, outros pesquisadores elogiaram a escolha de Allison para o prêmio, dizendo que ela estava muito atrasada.

"Por 100 anos, estávamos tentando ligar o sistema imunológico, e não funcionou para o câncer, ou apenas informalmente", disse Antoni Ribas, imunologista da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

"Ele descobriu como permitir que nosso sistema imunológico atacasse o câncer. Isso abriu as portas para uma nova linha de terapias."

Allison entrou na pesquisa do câncer porque sempre quis ser a primeira pessoa a descobrir alguma coisa, disse ele em entrevista ao The Washington Post no ano passado. Logo no início das aulas na Universidade do Texas em Austin, ele percebeu que a faculdade de medicina não era para ele.

"Se você é um médico, você tem que fazer a coisa certa; caso contrário, você poderia machucar alguém", disse ele. Como pesquisador, "gosto de estar no limite e de me enganar muito."

Este artigo foi originalmente publicado pelo The Washington Post.


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