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By Eikosi [CC BY-SA 4.0 (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0)], from Wikimedia Commons |
Aqui está uma idéia ousada para lutar contra as bactérias que não podem ser eliminadas por meio de antibióticos: vá atrás delas com micróbios que as comam. Esse raciocínio está por trás de uma intrigante linha de pesquisa que também pode ser usada no caso de um ataque de guerra bacteriológica.
Pode parecer estranho pensar em micróbios comedores de micróbios, mas "na verdade eles são encontrados em quase todos os ecossistemas da Terra", diz Brad Ringeisen, vice-diretor do Escritório de Tecnologias Biológicas da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA da sigla em inglês).
Essas bactérias estão até vivendo dentro de nós, mas em níveis tão baixos que elas não estão efetivamente lutando contra germes perigosos. A DARPA tem financiado pesquisas para ver se essas bactérias predatórias podem ser aproveitadas como nossos aliados.
"Tem sido muito emocionante", diz Ringeisen, como esta fase exploratória de pesquisa está gradualmente chegando a uma conclusão bem-sucedida.
Estudos de laboratório que sua agência financiou mostram que as bactérias predatórias podem atacar todo tipo de doenças, incluindo infecções bacterianas no pulmão e bactérias mortais que desenvolveram resistência aos antibióticos. E a estrela desse show é um organismo chamado Bdellovibrio, uma bactéria que nada ao redor com a ajuda de uma cauda de saca-rolhas e ataca outras bactérias com até seis vezes seu tamanho.
"A Bdellovibrio acabou atacando 145 dos 168 patógenos humanos que testamos, o que é bastante notável", diz Ringeisen. Outras espécies de bactérias predatórias também são potencialmente úteis, e cada uma usa sua própria estratégia.
Bactérias do gênero Myxococcus podem usar uma estratégia onde elas aglomeram-se ao redor de suas presas, diz Ringeisen. "Há também organismos que agem quase como vampiros" - o Vampirococcus - que sugam a vida de suas presas.
Os predadores mais bem estudados, as bactérias do gênero Bdellovibrio, na verdade penetram em bactérias maiores e as comem de dentro para fora. Primeiro, elas usam seu flagelo, que é rígido e gira, para nadar até a presa. Em seguida, elas se agarram à suas presas usando pequenos apêndices, que são como pequenos ganchos na superfície. É parecido com um alpinista preso à uma rocha, diz Liz Sockett, professora de genética bacteriana na Universidade de Nottingham, no Reino Unido.
Este não é apenas um processo estranho e maravilhoso. O ataque da força bruta significa que os germes não parecem capazes de desenvolver resistência ao ataque - assim como as zebras não podem desenvolver resistência aos leões.
Colegas de laboratório de Sockett fizeram experiementos para tentar encontrar bactérias que criassem resistência ao ataque de Bdellovibrio.
Eles pegaram as bactérias que foram atacadas por Bdellovibrio e procuraram por quaisquer pequenos sobreviventes na cultura, explica Sockett. Eles retiraram os poucos sobreviventes, deixaram que eles se multiplicassem e depois permitiram que a Bdellovibrio os atacasse novamente. Se a resistência se desenvolve-se, esse seria exatamente o cenário em que ela apareceria. Os pesquisadores repetiram esse processo por 50 ciclos durante um longo período de tempo e nunca chegou a aparecer nenhum mutante direto que fosse resistente.
Dessa forma, a Bdellovibrio pode efetivamente matar cerca de 150 bactérias conhecidas como causadoras de doenças e elas não foram capazes de evitá-lo. Isso demonstra que esse mecanismo pode se tornar a ser muito importante na luta contra bactérias patogênicas.
Nancy Connell, uma geneticista microbiana que trabalhou durante anos na Universidade Rutgers estudando antraz e todos os tipos de bactérias mortais e ameaçadoras, diz que explorar essas bactérias predatórias é o trabalho mais emocionante que ela já fez em sua carreira.
"Esta é a primeira vez que sinto que poderemos conseguir dar um jeito em muitas dessas diferentes infecções", diz Connell, que desde então se mudou para o Centro Johns Hopkins de Segurança da Saúde, em Baltimore.
Depois de ver todo o trabalho promissor nesses primeiros estudos, Connell e seu laboratório conseguiram financiamento da DARPA para ver se essas bactérias realmente combateriam infecções pulmonares em ratos. A resposta foi sim. "Então esse foi realmente o nosso primeiro e muito emocionante resultado", diz ela.
As bactérias predadoras não eliminaram totalmente as bactérias causadoras de doenças, como os antibióticos fazem. Isso faz sentido, porque os predadores raramente erradicam suas presas. O colega de Connell na Rutgers, Daniel Kadouri, observa que quando os leões comem muitas zebras, eles têm dificuldade em encontrar as poucas zebras que restaram e isso permite que a população de zebras sobreviva.
Mas, doses não naturais de Bdellovibrio podem reduzir muito as populações bacterianas. "Estamos falando de 99,99%, dependendo do modelo animal que estamos usando," diz Kadouri.
E mesmo que pareça assustador considerar infectar pessoas com bactérias, extensos estudos de segurança sugerem que isso seria seguro.
Ainda assim, quando se trata de experimentar em seres humanos, Kadouri está planejando começar com pequenos passos - talvez tratando uma infecção local de uma queimadura ou ferida, ou uma infecção pulmonar.
As bactérias predatórias poderiam se tornar um substituto dos antibióticos? Sockett não pensa assim. Ela suspeita que, se os médicos dessem uma grande dose dessa bactéria para as pessoas, os pacientes desenvolveriam uma resposta imunológica que prejudicaria as futuras tentativas de tratamento.
"Você tem uma chance de usar a Bdellovibrio", diz ela. "Nós chamaríamos isso de extintor de incêndio, que é onde você usa o extintor de incêndio para apagar o incêndio. Mas se o extintor de incêndio não funcionar, você não terá um segundo extintor."
Ainda assim, a abordagem poderia ser útil se dada como uma dose preventiva única antes de um ataque antecipado de bactérias, ou poderia também funcionar em um paciente que tem uma infecção que simplesmente não responde aos antibióticos, diz Connell.
É claro que não saberemos se funciona nas pessoas até que seja possível realizar testes em humanos. Esse é o próximo passo e um grande passo.
Esse artigo foi originalmente postado no site npr.org.
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